segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O exemplo de Londres (the example of London)

Os ex-anglicanos recentemente convertidos à Igreja Católica tomaram, esta semana, em Londres, uma medida exemplar: organizaram uma campanha pública para rezar pelo Papa, convidando-os participar numa Hora Santa de Roma. Mais: o convite partiu do ex-bispo anglicano Keith Newton - hoje sacerdote católico, ordenado há mês e meio – responsável máximo do Ordinariato de Nossa Senhora de Walsingham, a estrutura que Bento XVI criou para, em Inglaterra, acolher os que desejam entrar na plena comunhão com a Igreja católica. “Queremos agradecer a visão do Papa e o dom da unidade que nos trouxe até aqui”, disse o ex-bispo anglicano recém-convertido. “Encorajo todos a entrar numa igreja católica e a rezar por ele diante do Santíssimo”.
Que bom seria reconhecer esta frescura também em bispos que sempre foram católicos… Para que Bento XVI não tivesse de se queixar - como se queixa – de que os maiores ataques contra si partem do seio da própria Igreja.
Bispo Aura Miguel 25 de Fevereiro 2011

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Os lírios do campo (the lilies)

            A sociedade pós contemporânea está exilada. As correntes que agrilhoam o quotidiano das nossas gentes são muito poderosas e tentadoras até, embora diferentes daquelas usadas por Nabucodonosor, o personificador da eterna Babilónia onde o povo judeu dependurou as suas harpas sobre o rio. Nessa altura, o profeta da esperança, deutero-Isaías, encontrou, ainda assim, consolo para o seu povo ao comparar a perseverança de Deus à de uma mãe que não abandona o seu filho. Estamos, todavia, a falar de um povo que tinha Deus no horizonte. E agora? Quem tem no horizonte este povo contemporâneo que não quer Deus?
            Ao dizer que a sociedade está exilada é o mesmo que dizer que está completamente apegada a coisas que não fazem qualquer sentido e não dão qualquer esperança. Os grilhões ou as fortes correntes que prendem os do nosso tempo são poucas mas poderosas: dinheiro; poder; profissão; carreira; boa forma física (nem precisa de boa forma mental) e mais meia dúzia de passatempos que ofuscam o tempo que sobra das anteriores (futebol, prazer e afins).
            O Evangelho deste domingo, assim como a lógica das duas leituras, apontam para a máxima de Jesus: “não podeis servir a Deus e ao dinheiro”. Ao perguntar a cada um, é óbvio que o ser humano não consegue viver sem dinheiro, sem algumas posses. A questão é a importância e o peso que tem o que é essencial e o que é efémero e passageiro. Confiamos demasiadamente nas coisas materiais que ofuscamos a nossa mente com a sede de ter mais e mais, não restando tempo absolutamente nenhum para aquilo que poderia e deveria ser o fundamento de toda a nossa vida. Porque a felicidade, de que se falou nos domingos anteriores, não se encontra no dinheiro. Senão vejamos, de que serve ter um enorme carro, com 3000 de cilindrada? Para o conduzirmos sozinhos, apanhar multas e por em risco a própria vida e a de outrem? De que serve ter uma casa megalómana, cheia de divisões? Para ocupar apenas o nosso cantinho solitário com a obsessão de um computador e de uma internet? Para que nos serve um emprego muito bom, daqueles que nos ocupam 24 horas por dia mais três horas à noite? Para não ter tempo para a família e para os amigos?
            E agora a pergunta essencial: de que serve depositar a confiança em Deus e nas palavras de Jesus no Evangelho? Serve para ser feliz por muitas e variadas razões. Nunca nos abandona; oferece-nos as orientações para a nossa vida; tem sempre os seus braços abertos para nos receber; providencia aquilo de que precisamos; etc. E não se trata aqui de um conformismo na sombra de uma bananeira. Simplesmente é muito mais belo viver cada dia com aquilo que é essencial sem sonhar com aquilo que vai deteriorar a nossa mente. Na justa medida ainda teremos tempo para os nossos passatempos favoritos. Se conseguíssemos chegar a este ponto, cada um de nós seria um dos lírios do campo, que Deus revestiria com beleza e cor. A beleza e a cor do seu amor de Mãe e de Pai por cada um de nós.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

o grito silencioso (the silent cry)

Nunca é tarde para a consciencialização dos direitos daqueles a quem privaram dos seus direitos. Nunca é tarde para a consciencialização dos direitos daqueles que silenciamos nas urnas portuguesas. Nunca é tarde para defender a vida.
Morreu o homem que se arrependeu de praticar 75 mil abortos.
Morreu ontem, aos 84 anos, vítima de cancro, o médico e activista provida Bernard Nathanson. Nathanson dedicou a maior parte da sua vida a lutar pela questão do aborto: inicialmente, manifestou-se a favor da legalização do aborto; mais tarde, depois de um doloroso processo interior, manifestou-se contra. Formado em 1949, especializou-se em obstetrícia e ginecologia. Testemunhou em primeira mão as complicações resultantes de abortos ilegais nas mulheres pobres que acorriam ao hospital de Manhattan e convenceu-se da necessidade de lutar pela legalização do aborto nos Estados Unidos. Uma vez legalizada a prática, Nathanson tornou-se director do Centro de Saúde Sexual e Reprodutiva em Nova Iorque. Durante a sua vigência, o centro praticou cerca de 60 mil abortos. A estes acrescentava cinco mil feitos directamente por ele e outros 10 mil por residentes sob as suas ordens. Em  finais dos anos 70, começou a  ter dúvidas sobre as suas práticas. Numa conferência em Lisboa, em 1998, explicou que ele e os seus colegas apresentavam graves perturbações do sono, problemas no casamento e pesadelos.
 “O Grito Silencioso”
Com o avanço da tecnologia ecográfica, Nathanson acabaria por mudar radicalmente de opinião. Dedicou a sua vida “a tentar desfazer o mal que tinha feito”, falando em todo o mundo, incluindo Portugal, e apresentando-se sempre em público como “responsável por mais de 75 mil abortos”, alertando para “as técnicas propagandísticas dos adeptos da despenalização”. Em 1985, narrou um curto documentário, chamado “O Grito Silencioso”, que acompanha a gestação e mostra imagens reais de um aborto a ser praticado. No vídeo, vê-se o feto a recuar perante a agulha e a abrir a boca, no que aparenta ser um grito. Apesar das suas origens judaicas e ateístas, baptizou-se na Igreja Católica em 1996.

números que nos interessam (numbers that interest us)

Cidade do Vaticano, 19 Fev (in Ecclesia) - O Vaticano revelou hoje que o número de católicos registou um aumento de 1,7% entre 2008 e 2009, com mais 15 milhões de baptizados, especialmente em África e na Ásia.
Os últimos dados, recolhidos na edição 2011 do «Anuário Pontifício» mostram que há 1,18 mil milhões de católicos no mundo e quase metade (49,4%) vivem no continente americano.
A edição foi apresentada ao Papa, este Sábado, pelo seu Secretário de Estado, cardeal Tarcisio Bertone, e pelo substituto do secretário de Estado para Assuntos Gerais, D. Fernando Filoni.
As estatísticas referentes ao ano de 2009 fornecem uma análise sintética das principais tendências relativas à Igreja Católica nas 2956 circunscrições eclesiásticas do planeta, assinala um comunicado oficial do Vaticano.
A publicação mostra um aumento constante no número de padres católicos desde o ano 2000, na ordem dos 1,35%, passando de 405 mil para mais de 410 mil sacerdotes.
Entre 2008 e 2009, esse aumento foi de 0,34%, embora se verifique que na Europa a tendência vai em sentido contrário: menos 0,82% nos padres diocesanos e menos 0,99% nos padres de ordens e congregações religiosas.
Quantos às religiosas, o seu número baixou em 10 mil professas (de 739 mil para 729 mil), apenas num ano, o que leva o Vaticano a afirmar que “a crise permanece”.
A nível global, o número de candidatos ao sacerdócio aumentou em 0,82%, passando de para 117 024 em 2008 para 117 978 em 2009.
Precedido desde 1716 por várias publicações, o «Annuario Pontifício» passou a sair desde 1940 com o actual esquema, sob a responsabilidade da Secretaria de Estado, com informação sobre os cardeais, dioceses, bispos, dicastérios e organismos da Cúria Romana, representações diplomáticas do e no Vaticano, institutos religiosos e instituições culturais dependentes da Santa Sé.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

O Sonho do Amor (dream of love)

Por experiência própria, cada um de nós tem consciência destas coisas. Amar os nossos familiares é algo que nos constitui no nosso código genético; faz partes dos parâmetros do nosso ser, pelo menos enquanto precisamos deles. Amar os nossos amigos é ainda muito mais fácil porque de facto são eles com quem nós mais convivemos, desabafamos, temos alegrias e tristezas, vivemos. Agora amar os inimigos: isso já ultrapassa todos os parâmetros humanos e divinos. Os humanos porque de facto é algo que nos custa, que se nos torna quase impossível, que não faz lógica vivencial e relacional. E passa os parâmetros divinos na medida em que é mais uma das loucuras apresentadas por Jesus. Desde a loucura da cruz; a loucura do amor desinteressado; do dar a outra face; do amor aos inimigos… É esse o centro do Evangelho deste domingo.
            Afinal Deus pede-nos loucuras? Que Jesus é este que nos deixou impossibilidades de cumprimento? Podemos, no entanto, partir do princípio que há certas nuances que, ainda que em escala muito pequena, nós experimentamos enquanto seres humanos, e a sua concretude deixa-nos absortos.  
Sempre que acontece, ficamos desarmados quando alguém nos dá a outra face; maravilhados quando para além do casaco encontramos um irmão; arrebatados quando somos perdoados antes de ter pedido perdão; boquiabertos quando alguém vê só as nossas virtudes ou proezas e é cego perante as nossas traves; somos realmente renovados quando Deus nos ama primeiro, sem razões e sem medida, e nos convida a alargar o coração, a sermos também multiplicadores de vida e de esperança.
E ainda que tudo seja muito complicado à primeira vista, Jesus continua o sonho do domingo passado. E com ele eu quero também sonhar. Boa vivência do domingo e da vida escolhida por Deus para nós.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Só Quero Que Tu Me Aceites (just want you to accept me)

Tu és muito importante para mim.
Tu corres, almoças, trabalhas, cantas, choras, amas, mas nunca me chamas.
Tu entristeces-te e depois acalmas-te, mas nunca me agradeces.
Tu caminhas, sobes e desces escadas e não te preocupas comigo.
Tu tens tudo e não me dás nada.
Tu sentes amor, ódio, sentes tudo menos a minha presença.
Tu estudas e não me percebes, ganhas e não me ajudas, cantas e não me alegras.
Tu és tão inteligente e não sabes nada de mim.
Tu refilas dos maus tratos, mas não valorizas o que fiz por ti.
Se tu estás triste, culpas-me por isso, mas se estás alegre, não me convidas para participar
da tua felicidade.
Tu conheces tanta gente importante, mas de mim sabes tão pouco.
Tu és tão importante para mim...
Tu fazes tudo o que te ordenam, mas não fazes o que te peço com humildade.
Se tu sobes na vida, pisas naqueles que não tiveram sorte, se não sobes na vida,
descarregas sobre mim toda a tua raiva.
Tu não tens tempo para nada, nem mesmo para pensar em mim.
Tu reclamas da vida, mas não sabes que a minha foi triste por tua causa.
Tu dizes perceber o que se passa no mundo, mas não percebes a minha Mensagem.
Tu baixas os olhos quando um superior te fala, mas não levantas esses mesmos olhos
quando te falo do meu Amor.
Tu falas mal das pessoas e não sabes que eu conheço toda a tua vida.
Tu enfrentas muitos obstáculos na tua vida, és forte, mas que pena... embora não o
admitas, sei que tens medo de mim.
Tu defendes com unhas e dentes a tua equipa de futebol, o teu cantor predilecto, mas não
me defendes no meio dos teus amigos.
Tu não sentes vergonha de te despir perante alguém, mas sentes vergonha de dizeres que
me segues.
Tu corres muito na tua bicicleta, mas não corres para os meus braços.
Tu és um corpo no mundo e eu, um mundo em teu corpo.
Sou alguém que todos os dias bate à tua porta e pergunta:
Há um lugar para mim na tua vida? Na tua casa? No teu coração?
Estou presente nestas linhas que por curiosidade tu começaste a ler.
Eu sou Jesus e o que quero, simplesmente, é que tu me aceites!

Guardemos um lugar... Ainda que seja pequenino... No coração...

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Corrupção em Portugal (Corruption in Portugal)

Este país não é para corruptos. É o título que lhe dá Ricardo Araújo Pereira no seu sarcasmo divertido e que põe ao relevo a podridão de Portugal e da nossa justiça.



Em Portugal, há que ser especialmente talentoso para corromper. Não é corrupto quem quer
... Que Portugal é um país livre de corrupção sabe toda a gente que tenha lido a notícia da absolvição de Domingos Névoa. O tribunal deu como provado que o arguido tinha oferecido 200 mil euros para que um titular de cargo político lhe fizesse um favor, mas absolveu-o por considerar que o político não tinha os poderes necessários para responder ao pedido. Ou seja, foi oferecido um suborno, mas a um destinatário inadequado. E, para o tribunal,  quem tenta corromper a pessoa errada não é corrupto - é só parvo. A sentença, infelizmente, não esclarece se o raciocínio é válido para outros crimes: se, por exemplo, quem tenta assassinar a pessoa errada não é assassino, mas apenas incompetente; ou se quem tenta assaltar o banco errado não é ladrão, mas sim distraído. Neste último caso a prática de irregularidades é extraordinariamente difícil, uma vez que mesmo quem assalta o banco certo só é ladrão se não for administrador (BPN).
O hipotético suborno de Domingos Névoa estava ferido de irregularidade, e por isso não podia aspirar a receber o nobre título de suborno. O que se passou foi, no fundo, uma ilegalidade ilegal. O que, surpreendentemente, é legal. Significa isto que, em Portugal, há que ser especialmente talentoso para corromper. Não é corrupto quem quer. É preciso saber fazer as coisas bem feitas e seguir a tramitação apropriada. Não é acto que se pratique à balda, caso contrário o tribunal rejeita as pretensões do candidato. "Tenha paciência", dizem os juízes. "Tente outra vez. Isto não é corrupção que se apresente."

Às vezes dá para ter vergonha de ter nascido neste cantinho Ibérico de Camões. Nalgumas coisas até nos podemos resignar, mas outras...

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Deus existe (God exists)

Às vezes é a nossa cegueira que não nos permite ver mais além. Outras vezes é a nossa cobardia. Outras ainda é a nossa ignorância. Mas pode ser ainda muito mais e tanto mais. Senão vejamos:

Um homem decidiu-se ir ao barbeiro mais uma vez, como muitas outras antes, uma vez que a sua barba e cabelos já estavam no limite da decência. Entrou e quando chegou a sua vez sentou-se. O barbeiro começou profissionalmente a fazer o seu trabalho, muito bem feito, todavia, entretanto resolveu dar duas de treta. Vira-se para o cliente a quem estava a cortar o cabelo e exclama:
- Deus não existe. Não existe, simplesmente Deus não existe, é impossível que exista. Se Deus existisse não havia crianças pobres, não havia mendigos, não havia pessoas más, não havia terroristas, não havia não sei o que mais. Deus é bom, e foi ele quem criou o mundo, e por isso, tudo teria de ser bom se isso fosse verdade. Mas não é. Deus não existe e ponto final.
No entanto, o homem ficou calado porque não queria entrar numa discussão com o barbeiro e por isso não disse uma palavra sequer. Pagou o serviço e saiu da barbearia. Mesmo à porta encontrou um homem com barba e cabelo tão grandes que até se assustou. Parou, voltou atrás e disse para o barbeiro:
- Os barbeiros não existem.
- Não existem?
- Não.
- Então não existem como, se eu sou um?
- Não existem, se existissem este homem não tinha o cabelo e a barba assim. O barbeiro perplexo responde: - Os barbeiros existem, algumas pessoas é que não se aproximam deles para poderem cortar a barba e o cabelo.
O homem retorquiu:
- Pois meu caro barbeiro, o ponto é mesmo esse. Deus existe, algumas pessoas é que não se aproximam dele para experimentarem o seu amor.

A questão é que muitas vezes as pessoas não sabem onde fica a barbearia. Outras vezes não sabem o caminho para lá. E pior que isso, podem não saber que tem de se procurar o engenho certo para resolver o problema certo. Pode até nem ser para resolver problema nenhum... Mas vale sempre a pena.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Felicidade e fé: um sonho possível (Happiness and Faith: a possible dream)


Toda a história de todos os seres humanos pode ser resumida de uma forma muito sintética e simples. A divisão, ou a dupla visão entre o bem e o mal. Numa outra perspectiva, o ser humano tem duas hipóteses de escolha: entre o bem e entre o mal. Da escolha do bem advém a felicidade; já da escolha do mal advém a infelicidade, as dificuldades, as depressões, os impropérios contra a vida, os atentados contra Deus e contra a Igreja e contra o cristianismo e contra todos os que escolheram o bem. Porque aqueles que escolhem o bem são felizes e causam, em muitos casos, inveja e dificuldade de conciliação. A questão que já surgiu neste blog sobre os estar na moda “malhar na Igreja” pode ser explicada desta forma evidente. É que a Igreja, com muito daquilo que proclama, oferece a possibilidade de salvação já aqui na terra, isto é, a felicidade. No entanto isso incomoda, principalmente porque muitos não têm coragem de enveredar por esse mesmo caminho. E tantas vezes é mais fácil atacar que assimilar.
A questão da Igreja e da mensagem evangélica, ou ainda de tantas outras coisas que estão em discussão não está tanto no facto de ter ou não ter fé. É possível ser feliz sem acreditar? Claro que sim. Não tenho dúvidas nenhumas. A liturgia deste domingo que se aproxima é disso mesmo prova e testemunho. Jesus procura convencer as pessoas, através do seu discurso ético, que é preciso abandonar os antigos paradigmas. A lei antiga, imersa na tradição do famoso Talião, continha uma ética muito minimalista sobre apenas aquilo que não se deve fazer. Mas Jesus vai muito mais longe. Ele não aponta apenas os problemas da sociedade do seu tempo, mas procura ir ao âmago dos problemas. É necessária a conversão do coração, pois aí é que está a raiz do problema. E convertido o coração, nem os olhos, nem as mãos serão ocasião de escândalo.
Jesus aqui não nos fala de fé, mas apenas de orientações práticas. Isto porque Jesus sonhou com uma sociedade melhor. Jesus sonhou com a conversão de corações. Jesus sonhou com a relação sadia, boa e amorosa entre todos. Jesus pede, claramente, que antes de ter fé e antes de haver aproximação a Deus e até ao culto, é preciso que antes haja harmonia nos corações e na sociedade. Isto também demonstra a inteligência da sua pregação.
Ao reflectir parece que estamos a pregar para o lado errado. Pelo menos pela lógica do evangelho deste fim-de-semana. Primeiro devemos pregar o amor e a harmonia na sociedade. E isso, nenhum político o vai poder evitar. Depois, quando isso for logrado, avançamos para a pregação da fé, porque já estarão criadas as condições sociais necessárias.
Será que isto é um sonho possível? Este sonho de Jesus Cristo que é também o meu?    
 

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Solidão e outros problemas sociais (Loneliness and other social problems)

A solidão é um dos maiores cancros da nossa sociedade moderna. A notícia sobre a idosa que esteve alguns anos esquecida no seu apartamento mostra, como que num retrato social, o animalesco que pode ser o nosso comportamento no séc. XXI. É impressionante pensar que dos cinco sobrinhos, nem um se lembrou de a contactar durante tantos anos.
Mais do que um caso isolado, este caso é paradigmático. É muito mais confortável, hoje, enfiar os nossos pais e os nossos avós em lares de aposentação porque assim não nos dão trabalho. Chegamos ao ponto de ter uma vida profissional que não se coaduna com uma visita aos familiares mais velhos.
É apenas mais uma das consequências desta nossa mesquinha sociedade que tanto progresso consome e se esquece daquilo que está para trás, na nossa origem, que nos deu carinho, afecto, amor, vida. Sim, porque os nossos pais e principalmente os nossos avós ainda tinham tempo para passar alguns dias com os filhos. Hoje são filhos de creches, infantários, escolas e não sei que mais. Provavelmente é um abandono semelhante ao dos idosos. Não temos tempo. Há muito que fazer até para tomar conta dos filhos, quanto mais dos velhos.
Temos de reflectir estas questões. Não só porque este caso aconteceu. Mas o grande problema é que a sociedade desenvolveu a emancipação dos empregos, não digo apenas das mulheres mas também dos homens. A vida familiar está a desaparecer aos poucos. Tanto a relação com os filhos que estão desencontrados com os pais, como dos pais desencontrados com os filhos. Quando estão todos em casa, cada um tem o seu quarto e o seu computador e a sua rede social para substituir a família. Por outro lado, dos velhotes já nem se fala. Vivem sozinhos até que não seja possível e sobrevivência. Então, quando eles já nem podem reclamar, enfiam-se num lar, contra vontade, e problema resolvido. Isto é que é caridade. Haja vergonha social primeiro. Depois, cada um tenha vergonha da sua própria responsabilidade e culpabilidade. Neste caso, desta senhora, nem sequer foi metida num lar. Pior, foi completamente esquecida por todos. Agora que há um apartamento que tem de ser entregue a alguém, os sobrinhos aparecem...

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

redes sociais e testemunho cristão (social networking and Christian witness)

As redes sociais são uma realidade cada vez mais abrangente na nossa sociedade. Ao mesmo tempo é uma realidade constatada a importância que podem ter e a forma como estão a ser aproveitadas pelos diversos âmbitos que compõem este mundo pós-moderno.
É interessante constatar a forma e influência que estão a ter alguns sites e os lucros excessivos que conseguem causar. No entanto, o importante é saber se aquilo que está a causar verdadeira influência é o mais importante para a nossa sociedade. Tudo o que tem a ver com espiritualidade vende drasticamente. É também facto que as pessoas bebem de qualquer fonte sem questionar a veracidade, viabilidade, ou mesmo ética (e moralidade) daquilo que consomem. Isto já para não entrar noutros âmbitos como a pornografia, a violência digital infantil, o comércio barato, obscuro e sem escrúpulos.
Não queria entrar contudo nesses âmbitos. Interessa reflectir sobre as redes sociais. Cada indivíduo que cria uma página na internet coloca nela tudo o que seja a sua identidade, coloca o seu mundo, as suas preferências, a sua vida em última instância. Cria-se uma sociedade virtual em que o sujeito constrói e cria o mundo à sua imagem e semelhança.
Facto mais importante e entristecedor é que nós, cristãos, estamos a perder terreno. As diversas situações que conhecemos e que são ataque à Igreja Católica e ao cristianismo em particular têm um grande impacto em todas as redes virtuais porque “malhar na Igreja” começa a ser uma moda, e as modas pegam muito facilmente. Todavia, nós não estamos a perder terreno por causa dos muitos que “malham” diariamente na Igreja, estamos a perder terreno porque não nos manifestamos na nossa identidade, nos nossos valores, nas nossas crenças e, acima de tudo, na nossa cultura.
Vamos lá cristãos, saltemos para as redes sociais. Sejamos testemunhas daquilo em que acreditamos. Coloquemos o nosso mundo no meio destes mundos destas novas redes.
Desde já agradeço a solidariedade de muitos para com este blog. É para esses que eu escrevo.     

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Conhecer Deus (knowing god)

Solidariedade com os ladrões (solidarity with the thieves)

É triste, mas é bom saber...

-Porque é que os madeirenses receberam 2 milhões de Euros da solidariedade nacional,
quando o que foi doado era de 2 milhões e 880 mil?
Querem saber para onde foi esta "pequena" parcela de 880.000 € ?
POIS É....
EM PORTUGAL ATÉ A SOLIDARIEDADE DOS PORTUGUESES
SERVE PARA FAZER NEGOCIATAS...
A campanha a favor das vítimas do temporal na Madeira através de chamadas telefónicas é um insulto à boa-fé da gente generosa e um assalto à mão-armada.
Pelas televisões a promoção reza assim: Preço da chamada 0,60 + IVA.
São 0,72 no total.
O que por má-fé não se diz é que o donativo que deverá chegar (?) ao beneficiário madeirense é de apenas 0,50.
Assim oferecemos 0,50 a quem carece,   mas cobram-nos 0,72,
mais 0,22 ou seja 30 %.
Quem fica com esta diferença?
1º - a PT com 0,10 (17 %) isto é a diferença dos 50 para os 60.
2º - o Estado 0,12 (20 %) referente ao IVA sobre 0,60.
Numa campanha de solidariedade, a aplicação de uma margem de lucro pela PT e da incidência do IVA pelo Estado são o retrato da baixa moral a que tudo isto chegou.
A RTP anunciou com imensa satisfação que o montante doado já atingiu os 2.000.000 de euros.
Esqueceu-se de dizer que os generosos pagaram mais 44 % ou seja mais 880.000 euros divididos
entre a PT (400.000 para a ajuda dos salários dos administradores)
e o Estado (480.000 para ajuda ao reequilíbrio das contas públicas e aos trafulhas que por lá andam).
A PT cobra comissão de quase  20 % num acto de solidariedade!!!
O Estado faz incidir IVA sobre um produto da mais pura generosidade!!!
ISTO É UMA TOTAL FALTA DE VERGONHA!!!
ISTO É UM ASQUEROSO ESBULHO À BOLSA E AO ESPÍRITO DE SOLIDARIEDADE
DO POVO PORTUGUÊS!!!

sábado, 5 de fevereiro de 2011

sal da terra e luz do mundo (salt of the earth and light of the world)

V Domingo TP Comum A

Vivemos tempos conturbados. O governo português é líder contra a defesa dos cristãos. Querem cortar os apoios às escolas privadas que, mais que um meio de evangelização, são um espaço privilegiado para educar seres humanos que são cada vez mais raros. O mundo árabe saltou para a ribalta com violência atroz que se tornou alimento para os nossos telejornais. Estamos quase no caos.
É neste contexto que somos chamados a ser sal da terra e luz do mundo.
Em primeiro lugar o sal da terra. Como cristãos temos de dar sabor a este mundo. Há uma enorme necessidade de combater esta sociedade que está insossa, desvitalizada, inerte, sem rumo. Tudo o que tem a ver com religiosidade é muito bem vindo, mas quando se trata de cristianismo, especialmente se for Igreja católica, é uma desgraça para a sociedade. Precisamos de combater estas tendências. Temos obrigação de dar o sabor de Cristo ao mundo. E este sal que dá sabor é o amor que anunciou e que viveu. Porque no fundo, com um bocadinho de reflexão percebemos que o que falta no meio do mundo é esse amor único, desinteressado e altruísta.  
Depois temos de ser luz. Estou cada vez mais convencido que chegamos a este ponto por nossa própria responsabilidade. Porque deixamos que as nossas candeias se apagassem. Porque deixamos de brilhar no alto do monte para brilhar apenas debaixo do alqueire. Porque passamos de testemunhas visíveis na luz do dia para a religiosidade privada do cantinho de cada um. Temos obrigação, a pedido de Jesus no evangelho deste domingo, de ser testemunhas à luz do dia. Fazer brilhar as nossas opções para que possam dizer, como diziam dos primeiros cristãos que ainda brilhavam, “vede como eles se amam”.     


Defesa dos Cristãos (Defense of Christians)

Dá para ter vergolha de ser português, no mínimo. Senão leiam:

Quando ouvimos notícias sobre atentados contra cristãos, sofremos e, muitas vezes, revoltamo-nos ao saber que foram mortos cobardemente por ódio à fé, enquanto rezavam, como aconteceu recentemente no Iraque e no Egipto.
Entre nós – no Ocidente - não há perseguição aberta nem martírios frequentes, mas muitos cristãos sofrem certa pressão e discriminação: ao nível da opinião pública, nos programas de ensino impostos pelo Governo, na legislação sobre saúde, sobre a família e a vida humana... Enfim, cada um de nós é capaz de enunciar já hoje um ou outro caso.
Às claras, ou veladamente, a violência e intolerância contra os cristãos é sempre condenável. Claro! Foi o que também achou o ministro dos Negócios Estrangeiros de Itália ao propor, esta semana, à UE, uma declaração conjunta para condenar a perseguição religiosa anti-cristã.
A proposta italiana teve o apoio da grande maioria dos ministros dos Negócios Estrangeiros da União, mas foi bloqueada por cinco países: Portugal, Espanha, Luxemburgo, Irlanda e Chipre. E, por isso, não se chegou a acordo.
Ficamos, pois, a saber que o Governo de Portugal é líder na Europa contra a defesa dos cristãos.

Aura Miguel, RR on-line 04-02-2011 09:45

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Deus e sociedade (God and society)

Passos incertos, obscuros, sem norte,
Penteiam a senda vazia e encurvada.
Devassos e escuros, sem qualquer porte
Cambaleiam nessa via desbravada.
Sem laços onde nem sequer une a morte,
Norteiam a meta nunca desvelada.

Deblateram contra a sina deste andar.
Incessante busca de um novo horizonte,
Aceleram ritmo, abrandam caminhar.
Gritante limite, imposta nova ponte,
Reiteram contornos, e assim, avançar
Diante da demanda de alguma fonte.

Esmorecimento diante do obscuro
Em deletério andar como um foragido.
Neste sentimento negro, ausente e surdo,
Sem critério firme, rumo convertido
Cimenta em cada um, um pesar aturdo,
Numa séria procura de algum sentido.

É o quotidiano, a nossa via escura,
E a vida, atalho semelhante a uma estrada.
Meridiano de uma vida insegura,
Que é vivida com uma esperança alada.
Leviana, que precisa de estrutura,
Tida como um elmo que a torne amparada.

Porque se amparam em certezas terrenas,
Seus corações rejeitam o que ultrapassa,
Pois somente amaram virtudes amenas.
Ateus do além, daquilo que nos enlaça,
Nunca amaram, mas encobriram apenas.
Falta Deus nesta sociedade devassa!

Ar. Errante

Encontrar Deus (Find God)

Certo dia, um homem andava desesperado da vida. Não sabia muito bem o que fazer porque estava convencido que tudo lhe corria mal. Tinham morrido familiares por doença e achava-se sozinho e desamparado. Então apercebeu-se de que lhe faltava Deus na sua vida. Decidiu procurar Deus mas não sabia muito bem onde o encontrar. Decidiu peregrinar. Caminhou durante dias a fio. Saiu de Portugal e caminhou largamente por sítios que desconhecia. Ao chegar a determinado lugar viu um vale muito belo e no meio da beleza daquelas paisagens encontrava-se um mosteiro beneditino. Decidiu caminhar até ao mosteiro e bateu á porta. Apareceu-lhe um monge velhinho, já curvado pelo peso da idade, com um rosto muito sério e as rugas a denunciar a casa dos oitenta, noventa anos. O homem virou-se para o monge e disse-lhe que andava à procura de Deus e não o encontrava. O monge conduziu o homem até um lugar alto do mosteiro e mostrou-lhe uma das mais belas paisagens do mundo, com florestas e flores lindíssimas, vários tons de verdes, com um pequeno riacho de um azul celeste. E perguntou-lhe. O que vês? O homem respondeu: vejo pinheiros. Que mais? Flores. Que mais? Água. Que mais? Mais nada. O monge disse-lhe muito calmamente. Então não vês que Deus está mesmo aí. O homem pergunta, onde? Aí mesmo, nesta paisagem á tua frente. Sabes que o ser humano pode construir coisas lindas e belas, mas paisagens como esta nunca o conseguirá, porque isto é o reflexo do criador. Foi Deus que criou esta beleza toda e o autor está na sua criação sempre de qualquer forma. Neste caso, se tão bela é a paisagem quanto não será o criador. Depois conduziu o homem até ao riacho lá em baixo e a água era tão límpida que dava para ver o reflexo. O monge perguntou. O que vês? Vejo o meu reflexo. E que mais? Mais nada, só o meu reflexo. Eu vejo Deus. Não é Deus que está ali é o meu reflexo. Foste tu que te criaste a ti próprio? Não. Pois não, é Deus que devias ver porque foi ele que te criou. Enquanto o homem estava distraído a olhar para o reflexo, o monge agarrou na cabeça dele e empurrou-a contra a água de tal modo que não conseguia respirar. Retirou um bocadinho apenas para que recuperasse o fôlego e voltou a fazer o mesmo por três vezes. Depois o homem perguntou. Porque fizeste isto? O monge respondeu, não és tu que procuras Deus? O que sentiste ao fazer-te isto? Senti falta de ar. O monge concluiu. Pois bem, quando sentires falta de Deus como aqui sentiste falta de ar, aí sim, tu encontraste Deus. Porque só encontrou Deus verdadeiramente quem precisa dele até para respirar.