sexta-feira, 8 de abril de 2011

Jesus, como nós (Jesus, as we)

            É muito interessante procurar uma outra perspectiva na liturgia deste fim-de-semana. A riqueza estende-se para além da teologia que dela possa advir. É obvio que a temática assenta sobretudo na ressurreição, não só no evangelho mas também nas leituras. No entanto, há outros pontos fulcrais a destacar.
            Em primeiro lugar e muito importante, Jesus tinha amigos que não estavam contados no círculo quase fechado dos discípulos. Marta, Maria e Lázaro eram amigos íntimos que intimavam a preocupação de Jesus. Jesus não era apenas aquele Homem/Deus, com uma inteligência sobrenatural que se degladiava com as autoridades políticas e religiosas da época e saía sempre a vencer. Também tinha sentimentos para além daquele eterno, inefável e indelével amor de Deus pela humanidade. Também se emocionava quando a situação se agravava. As lágrimas de Jesus atestam algo que vai para além do salvador do mundo.
            Todavia, esta humanidade sentimental de Jesus não o inibe de deixar correr o normal da vida humana, com todos os seus destinos, ainda que sejam fracassos, sempre na certeza que a última palavra é a dele e que a vida será sempre o lugar do triunfo. Parece, inclusive, que atrasa o seu percurso em direcção a Lázaro e à sua salvação na certeza de que a confiança no Pai é sempre o maior e o verdadeiro sentimento. O Evangelho não serve para resignações, pois Jesus compromete-se com os nossos sofrimentos e Deus não é indiferente à dor humana. Contudo, Jesus não vem modificar os ritmos da vida ou o decurso das doenças, nem atrasa indefinidamente o momento do morrer, mas veio dar um novo sentido tanto à morte como à vida. Ele não isenta da morte, mas veio para a Ressurreição. Talvez, Jesus chore não só por Lázaro, mas também por aqueles que não acreditam que Ele é a ressurreição e a vida.
             Um outro ponto importante é a pedra do túmulo. Na cultura judaica a pedra selava a verdadeira separação do ser humano em relação àquilo que era terreno. É mais uma das barreiras vencidas por Jesus. A partir desta atitude, podemos esperar do mestre (também sentimental) que a sua pessoa e a fé nas suas palavras e obras destruirão tudo o que acabe com as esperanças terrenas.
            Teologicamente, como é óbvio, fica a antecipação da certeza da sua ressurreição. Mais uma vez, a nossa confiança não está no que é deste mundo porque dele, assim como a ele viemos, não levaremos nada a não ser a nossa caridade, e com a liturgia deste fim-de-semana, também a esperança na vida transbordante. Fica ainda a certeza de que a ressurreição não é uma realidade só para Jesus no dia de Páscoa, com Lázaro é algo acessível a cada um de nós.

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