sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Os lírios do campo (the lilies)

            A sociedade pós contemporânea está exilada. As correntes que agrilhoam o quotidiano das nossas gentes são muito poderosas e tentadoras até, embora diferentes daquelas usadas por Nabucodonosor, o personificador da eterna Babilónia onde o povo judeu dependurou as suas harpas sobre o rio. Nessa altura, o profeta da esperança, deutero-Isaías, encontrou, ainda assim, consolo para o seu povo ao comparar a perseverança de Deus à de uma mãe que não abandona o seu filho. Estamos, todavia, a falar de um povo que tinha Deus no horizonte. E agora? Quem tem no horizonte este povo contemporâneo que não quer Deus?
            Ao dizer que a sociedade está exilada é o mesmo que dizer que está completamente apegada a coisas que não fazem qualquer sentido e não dão qualquer esperança. Os grilhões ou as fortes correntes que prendem os do nosso tempo são poucas mas poderosas: dinheiro; poder; profissão; carreira; boa forma física (nem precisa de boa forma mental) e mais meia dúzia de passatempos que ofuscam o tempo que sobra das anteriores (futebol, prazer e afins).
            O Evangelho deste domingo, assim como a lógica das duas leituras, apontam para a máxima de Jesus: “não podeis servir a Deus e ao dinheiro”. Ao perguntar a cada um, é óbvio que o ser humano não consegue viver sem dinheiro, sem algumas posses. A questão é a importância e o peso que tem o que é essencial e o que é efémero e passageiro. Confiamos demasiadamente nas coisas materiais que ofuscamos a nossa mente com a sede de ter mais e mais, não restando tempo absolutamente nenhum para aquilo que poderia e deveria ser o fundamento de toda a nossa vida. Porque a felicidade, de que se falou nos domingos anteriores, não se encontra no dinheiro. Senão vejamos, de que serve ter um enorme carro, com 3000 de cilindrada? Para o conduzirmos sozinhos, apanhar multas e por em risco a própria vida e a de outrem? De que serve ter uma casa megalómana, cheia de divisões? Para ocupar apenas o nosso cantinho solitário com a obsessão de um computador e de uma internet? Para que nos serve um emprego muito bom, daqueles que nos ocupam 24 horas por dia mais três horas à noite? Para não ter tempo para a família e para os amigos?
            E agora a pergunta essencial: de que serve depositar a confiança em Deus e nas palavras de Jesus no Evangelho? Serve para ser feliz por muitas e variadas razões. Nunca nos abandona; oferece-nos as orientações para a nossa vida; tem sempre os seus braços abertos para nos receber; providencia aquilo de que precisamos; etc. E não se trata aqui de um conformismo na sombra de uma bananeira. Simplesmente é muito mais belo viver cada dia com aquilo que é essencial sem sonhar com aquilo que vai deteriorar a nossa mente. Na justa medida ainda teremos tempo para os nossos passatempos favoritos. Se conseguíssemos chegar a este ponto, cada um de nós seria um dos lírios do campo, que Deus revestiria com beleza e cor. A beleza e a cor do seu amor de Mãe e de Pai por cada um de nós.

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