A origem etimológica da palavra carnaval é conhecida por poucas pessoas. O Carnaval, como o conhecemos hoje, tem a duração de três dias que vão do Domingo Gordo à Terça-feira Gorda. A quarta-feira seguinte, conhecida por Quarta-feira de Cinzas ou Entrudo (do latim, introitus, que significa entrada), simboliza a entrada no período da Quaresma, que antecede a Páscoa. Por isso, os calendários que apresentam o dia de carnaval como Entrudo estão errados.
Sobre a origem da palavra, não há unanimidade entre os estudiosos. Há quem defenda que a palavra Carnaval deriva de carne vale (adeus carne!) ou de carne levamen (supressão da carne). Esta interpretação da origem etimológica da palavra leva-nos, indubitavelmente, para o início do período da Quaresma, uma pausa de 40 dias nos excessos cometidos durante o ano, excessos esses que incluem, segundo a religião católica, a alimentação. Assim, a Quaresma era, na sua origem, não apenas um período de reflexão espiritual como também uma época de privação de certos alimentos como a carne.
Dá-nos a impressão, ao ver o que se passa pelo país, que o carnaval está a acontecer como uma lufada de ar mofo em várias cidades e regiões. Ante os problemas em que estamos emersos, um bocadinho de alegria, boa disposição, e abusos até fazem bem à saúde. Não fossem os abusos. Não são apenas os abusos de ordem económica, porque a esses, já o país e a cultura nos habituaram. Mas os abusos de outra ordem, como o sair à rua sem roupa, bem, isso já é decalcado noutras culturas das quais a nossa não faz parte. O povo precisa de distracção, e com a alegria contagiante do carnaval até nos esquecemos de que estamos em crise. Este é o primeiro abuso. O país está nas lonas no entanto há sempre uns milhões para estourar durante três dias de Norte a Sul. Quanto ao resto, enfim, cada um terá a sua consciência.
Por falar em lufadas de ar mofo, a situação em que nos encontramos serve também de mote para a votação dos portugueses no Festival da Canção deste fim-de-semana. Venceram os homens da luta com uma música que causa impacto naqueles que não se revêem na situação actual. Nesta medida, na Alemanha, vão representar-nos aqueles que personificam os milhões de portugueses do mesmo sangue que Zeca Afonso, o sangue lusitano que corre nas veias daqueles que não se identificam com a nossa situação.
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