Caros amigos e amigas, a história da samaritana é a nossa história, feita de sedes, de encontros e de amores. É também a metáfora do nosso itinerário de fé. Jesus, com delicadeza e pedagogia, vem ao nosso encontro, chama-nos, fala-nos de fontes em plenitude e desperta em nós sonhos e mistérios esquecidos.
“Dá-me de beber”!
A samaritana, mulher de vários amores, vivia ainda no deserto do amor. Mas, no poço de Sicar, ela encontra o Esposo que procura a esposa perdida, vê o noivo que busca a humanidade sedenta, para a saciar.
É um Deus inesperado aquele que se apresenta junto ao poço da nossa vida, na pele de um viajante cansado. É um Deus sem pudor que vem à procura, toma a iniciativa e interpela. É um Deus com sede de nós, da nossa fé, da nossa atenção, do árido cântaro do nosso coração. Um Deus que se faz pobre e pedinte para saciar a nossa pobreza e educar a nossa sede.
“Se conhecesses o dom de Deus”!
Jesus cruza o olhar da mulher com um sorriso que não condena, não humilha, apenas ama. Fá-la nascer de novo e ela abandona o cântaro como se fosse um trapo velho. Jesus não nega à samaritana as pequenas alegrias do caminho, não desencanta a vida, não lhe rouba o sonho e a poesia. Apenas mostra que essas não chegam para saciar uma sede maior, que essas não são suficientes porque o coração é maior do que muitos oceanos. Jesus faz nascer nela a sede de céu, a fome de eternidade; fá-la passar do pequeno cântaro para a fonte da vida. Ele pede-lhe água e nela acende o fogo do amor de Deus. Ali no coração, verdadeira cidade santa, onde se adora em “espírito e verdade”. Nunca ninguém lhe tinha dito que ela era um templo divino de amor. O mundo tinha-se dividido entre quem a usava e quem a condenava. Mas Jesus é aquele que não fecha ninguém nos seus falhanços, mesmo que mais numerosos do que os maridos da samaritana, mas é fonte de natividades e de futuro, para que também nós cheguemos ao poço como mendigos de água, mas andemos ao encontro dos outros como pedintes do céu.
Ser fonte de água viva
A mulher de Samaria vai com um cântaro ao poço, mas regressa a casa e à cidade como uma nascente, como discípula, como epifania do rosto de Deus. Também nós temos de esquecer os cântaros velhos, as vidas que contém tão pouco, tão opacas e vazias, para correr a contar a todos acerca de um Senhor que faz levantar o olhar e faz brotar em nós, numa espiral de vida, uma primavera de esperança.
O dom de Deus não é ter um cântaro maior, nem é um poço mais profundo, mas é uma “água viva que se torna fonte para a vida eterna”. A fonte é água que se dá para a sede dos outros. A fonte é fecundidade, vida, abundância. O projecto de Deus é que cada um de nós seja fonte, para as sedes e ardores dos outros, com a delicadeza de um enamoramento divino. E isso, caros amigos, é Evangelho!
in página de união
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