Estamos cheios de medo, temor, desânimo ante tantas dificuldades, tristeza perante as partidas que a vida nos provoca, desalento pelas desilusões que nos rodeiam, cegos no meio da escuridão, oprimidos pelo peso da quaresma que carrega ainda o peso da cruz e a tristeza do roxo litúrgico. De certa forma, era também assim que os discípulos se encontravam, desanimados. Quando foram chamados por Jesus esperavam um reino glorioso, messiânico à medida de um bom judeu, sem dificuldades e sem cruz ou paixão. As progressivas revelações de Jesus sobre o caminho da cruz deixam os discípulos de rasto. Por isso é tão importante, neste contexto, o evangelho deste domingo, a transfiguração.
Através da luz que brotou de Cristo, juntamente com Moisés e Elias, que representam todo o Antigo Testamento com a Lei e os Profetas, ilumina novamente o caminho e a esperança dos discípulos. A glória de Deus encontra um espelho em Cristo transfigurado que reflecte a fé e a esperança para os discípulos que, depois da ressurreição, a levam ao mundo. É uma antecipação da Glória da Ressurreição; é uma pequena antecipação da vitória sobre a morte; é uma recuperação de todas as teofanias veterotestamentárias com todos os seus simbolismos; é uma resposta às inquietações dos discípulos e de todos os crentes; é um lugar belo onde apetece ficar.
“Façamos três tendas” diziam os discípulos na sua ignorância à qual Jesus nem responde. Trata-se da lógica humana e inquieta, deferente da calma divina. Trata-se da necessidade do ser humano se situar onde está a beleza e a tranquilidade sem mais nada, diferente da não necessidade divina do que é bom e belo, mas antes do necessário, o caminho da cruz.
O Tabor não é uma experiência mística reservada a uns poucos eleitos, mas é a experiência de fé de todo o crente que escutando a Palavra de Deus, vê o verdadeiro rosto de Cristo, toca a sua presença, saboreia a consolação do Espírito, chora de arrependimento, respira o sopro de Deus, vive o dia-a-dia sob a luz transfiguradora da sua graça.
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