As passagens pelo deserto da nossa vida são, não poucas vezes, o cenário perfeito para a nossa luta contra as diversas tentações que se nos apresentam dia-a-dia. Não se trata de um deserto apenas porque é o lugar propício para a tentação, segundo a lógica de Israel, mas porque de facto muitas vezes olhamos para a nossa existência e não vemos mais que deserto. Podemos ter muitos amigos, mais conhecidos ainda e os nossos familiares, emprego, lazer, tudo o mais, mas ainda assim vivemos em deserto. Tantas vezes a nossa existência está vazia de nada. É mesmo por esse vazio que tantas vezes enfrentamos várias tentações, e não menos vezes caímos nas mesmas num cair que obriga à dificuldade do levantar.
As tentações de Jesus, que nos são apresentadas pelo Evangelho deste domingo, são o protótipo da vida humana de todos os tempos. Já Israel havia sido tentado no deserto e cedido, e nós próprios, todos os dias, somos confrontados com várias tentações às quais sucumbimos. Provavelmente, e isto é só uma suposição, no deserto que forma tempestades na nossa vida, faltará um oásis onde poderíamos e deveríamos refrescar a sede do nosso espírito.
Pode ser que a quaresma seja um tempo privilegiado para a nossa luta contra as tentações. Na passada quarta-feira de cinzas, talvez, tenha iniciado a Quaresma. Talvez, porque nos custa deixar a máscara do carnaval e todas aquelas, ainda mais difíceis de tirar, que a vida nos cola sobre a alma. Talvez, porque custa afastar a má fama que envolve o tempo da Quaresma, apinhado de falsas renúncias, de peixes enganadores às sextas, de um roxo triste. Talvez, porque alguns fazem “mortificação quaresmal” durante todo o ano e, agora, deveriam vivificar este período para dar um sentido à própria vida. A Quaresma é o tempo das escolhas, o tempo da verdade, o tempo do perdão. É tempo para ver a nossa nudez e ser revestido com a veste baptismal que agasalha e embeleza a vida, e faz de nós filhos!
É interessante notar que as tentações têm lugar cronológico a seguir ao baptismo de Jesus. Assim, depois de receber o Espírito Santo, Jesus está preparado para lutar contra as dificuldades. Também nós, como baptizados estamos preparados. Apenas nos falta vivificar o Espírito Santo que habita em nós.
Há várias formas de resistir às várias tentações que atravessam o deserto da nossa vida. Contudo, estou convencido que a melhor forma de lhes resistirmos é tentarmos colocar no meio desse deserto o oásis que é Deus. Assim, a nossa vida já não tem tanta secura e tanto vazio. Quando esse deserto for vítima de tempestades de areia, aí, nós teremos o Oásis (Deus) como refúgio seguro e então poderemos, à medida de Jesus, resistir com a segurança da Palavra de Deus como resposta; com o refúgio de Deus como oásis e com a firmeza do Espírito Santo que nos foi transmitido no baptismo.
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